segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O Segredo do Andarilho


Era um andarilho.

Morava pelas ruas,

Conversava com os pombos,

Bebia a água das fontes das praças,

E comia o que lhe dessem,

Ou ingeria os restos que ao acaso encontrava.



Consigo carrevaga uma imensa maleta preta

Cujo conteúdo ninguém conhecia.
Dormia pelas calçadas, ao relento das almas.


Via imagens destorcidas e ria...

Sofria de frio e de fome e de saber-se sozinho,

Mas ao amanhecer, quando as crianças passavam,

Sorria, ainda sonolento, e murmurava: - "Bom... diiaaa!"


Quase todos, ao vê-lo maltrapilho,

Dele se afastavam.

Afinal, há muito não se valora

Quem mal cheire, quem aparente fome,

Quem fale aos postes e aos pombos...

Há muito não se valora aquele a quem muito falte.


Mas o pequenino João, talvez vidente ou profeta,

Ao ser levado para a escola, observou à babá:

- " Nana, que engraçado.

Aquele velhinho, Nana, sentado ali, na calçada...

Ele é muito esquisito, Nana."


A babá assentiu com a cabeça, e o menino emendou:


- "Nana, tudo bem que ele prefira andar com as perninhas.

Mas, se eu fosse um anjo

Voaria,

Não carregaria naquela maleta

As minhas coloridas asas."

Nenhum comentário:

Postar um comentário