terça-feira, 10 de novembro de 2009

O AMOR: ASSIM O SINTO



Quando menina,
O amor era o peito ausente da minha mãe,
Ou o meu pai chegando suado,
Sujo e cansado
De seus trabalhos braçais, dizendo-me:

"Eô!!! O papai chegou!!!"


Um pouco maior, o amor era um grande circo,
Com malabares, palhaços engraçados e poemas flutuantes.
Ou um grupo fadas-madrinhas,
Com seus vestidos rodados, esvoaçantes,
Em suas asinhas translúcidas.


Aos quinze, o amor era um príncipe que chegaria,
Tomar-me-ia em seus braços,
E me conduziria a uma terra de sonho e palácios,
Onde as rosas me reverenciassem
E as estrelas me enfeitassem sempre
De sonho e de seiva mágica,
De incandescente alegria.


Já adulta, o amor tornou-se uma fera a rosnar pelos poros,
A cegar-me o sentido no desejo de fundir-me ao outro.
Furacão de desejos num cheiro libidinoso infiltrado na alma.
O amor era o desespero da perpetuação da espécie.


Hoje, o amor é tecelão a tecer-se em mim.
O amor é um sino que retine e me ensina que não sei.
É uma fresta na porta de minha ignorância
Que me faz ver o quão mais sábia fui,
Quando eu era uma pequena criança.


Hoje o amor é um andarinho que me percorre a alma,
Sem pouso certo, sem forma fixa...
Sem afixação ao que vê.


Hoje o amor é um lago a refletir a soma dos afagos que não tive,
A amplidão dos corações que não amei, mas que estão ali, eu sei...

Hoje, o amor é mais que dor, mais que emoção,
Mil vezes maior que a razão...
O amor é a pilastra que arrima o meu sonho,
É a rima que ritima meu verso,
É um cipreste que se alastra pelos astros do peito
E faz com que eu me firme
Nas paragens etéreas.


É assim que eu o sinto.
O amor é o sangue da alma,
(É a maior metáfora da Suprema Alquimia)
A levar o oxigênio da vida,
Àquele que padeceu em extrema agonia.

domingo, 8 de novembro de 2009

Reflexão:


Nas Nuvens
Certo dia,
Disseram-me que ando nas nuvens
E que vejo nos homens inexistente alvura.
Ah, respondi, é verdade, mas não se preocupe,
Caminho nas nuvens do hoje,
Contudo, amanhã, melhor treinada às alturas,
Semearei o meu sonho às estrelas
E colherei o amor das criaturas.
Nara Rúbia Ribeiro.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O Segredo do Andarilho


Era um andarilho.

Morava pelas ruas,

Conversava com os pombos,

Bebia a água das fontes das praças,

E comia o que lhe dessem,

Ou ingeria os restos que ao acaso encontrava.



Consigo carrevaga uma imensa maleta preta

Cujo conteúdo ninguém conhecia.
Dormia pelas calçadas, ao relento das almas.


Via imagens destorcidas e ria...

Sofria de frio e de fome e de saber-se sozinho,

Mas ao amanhecer, quando as crianças passavam,

Sorria, ainda sonolento, e murmurava: - "Bom... diiaaa!"


Quase todos, ao vê-lo maltrapilho,

Dele se afastavam.

Afinal, há muito não se valora

Quem mal cheire, quem aparente fome,

Quem fale aos postes e aos pombos...

Há muito não se valora aquele a quem muito falte.


Mas o pequenino João, talvez vidente ou profeta,

Ao ser levado para a escola, observou à babá:

- " Nana, que engraçado.

Aquele velhinho, Nana, sentado ali, na calçada...

Ele é muito esquisito, Nana."


A babá assentiu com a cabeça, e o menino emendou:


- "Nana, tudo bem que ele prefira andar com as perninhas.

Mas, se eu fosse um anjo

Voaria,

Não carregaria naquela maleta

As minhas coloridas asas."

O Beija-Flor Socorrista


Quando acordo entristecida,

Recosto-me nas grades da sacada

E observo o sol lentamente nascente.


A cidade vai acordando

E, sob os raios matinais,

Objetos outrora invisíveis

Agora me parecem reais.


Penso, então,

Quanta flor de alegria

Ainda pode haver na vida

Imersa na escuridão

De minha ignorância sem par.


Mas se a solidão por vezes castiga

Uma lágrima eu vejo alagar

Meus sulcos secretos da alma.


E quando mais julgo estar sozinha

De completa e seleta solidão vencida,

Um beija-flor vem-me ao encontro

E de pronto me beija a lágrima

Que por minha face escorre.


O pássaro, tão pequenino e frágil,

Envenenado de minha tristeza,

Não morre:Transforma a dor em beleza.


À minha alma um beija-flor socorre.


Nara Rúbia Ribeiro.

domingo, 1 de novembro de 2009

INTUIÇÃO


O mais Inefável dos seres

Pousou dentro em mim

Qual borboleta,

Roçando em meu sonho

Suas asas de veludo etéreo.


E seu pó de ternura,

Em alvura e alvorada,

Fez com que, ao olhá-lo,

Eu não dissesse mais nada.


E o que dizer

Da Excelsa Magnitude

Quando se tem a alma

Em solar latitude?


Nara Rúbia Ribeiro

A Fonte


Tive sede.

Caminhei por desertos sombrios,

Por planícies medonhas

E por trincheiras de puro abandono.


O suor me banhava a face,

Misturando-se à poeira do caminho,

No que formava-me um lamaçal frontal

Peculiarmente meu.


Vislumbrei uma fonte de água cristalina.

Fluído de rochas semi-transparentes e límpidas.
E tal foi o encantamento


Ante a providencial visão,

Que quedei, reticente... silente,

Em perene contemplação.


Alguns momentos após,

Ao prosseguir no caminho,

Atônita, então, percebi

Que daquelas água não bebi.


Mas constatei, isto é certo,

Ao observar minha humana emoção,

Que as águas do fluído eterno

Eu bem sorvera em meu coração.



Nara Rúbia Ribeiro.

Não Temas


Não temas.

Espero-te na curva do rio.

As corredeiras são certas,

Os pedregulhos, pontiagudos,

Mas não temas,

Espero-te na curva do rio.


Não te exasperes da força das águas,

Da bravura dos ventos

E não chores ou grites:

Poupa teus pulmões,

Pois muitos mergulhos farás.


Ao seres levado pela força das águas,

Persevera a nadar e lembra-te:

Todas as águas do mundo

Deságuam em teu próprio mar.


Ao te atritarem as rochas,

Tenha calma!!!

O diamante que o atrito evita

Não recebe lapidação.


Ao te ensurdecerem o rugir dos ventos,

Não atente ao que eles disserem.

Ouça as vozes silentes

Que o incitam a não murmurar,

A não regredir, a jamais regressar.


Ao caíres nas quedas d’água gigantes:

VOOOOOAAA!!!!

Faça ruflar tuas asas,

Esperto-te na curva para prestigiar tal instante!

E saibas que nunca mais

Serás como antes.



Nara Rúbia Ribeiro.